Em meio à repescagem e ao Campeonato Mundial de Voleibol Masculino, em Roma (A PRIORIDADE!), destacamos as últimas em 140 caracteres que encerram a nossa celebração do Festival do Rio.
Em meio à repescagem e ao Campeonato Mundial de Voleibol Masculino, em Roma (A PRIORIDADE!), destacamos as últimas em 140 caracteres que encerram a nossa celebração do Festival do Rio.
Arquivado em Helena Sroulevich
Galera, desculpem o atraso. A promessa de publicação era de 5 em 5 dias, mas a minha (mais do que festejada) alegria de eleger o Lindberg Senador pelo Rio de Janeiro unida à minha (mais do que revoltante) amargura pela não eleição da Dilma no primeiro turno me afastaram do espaço virtual.
Voltando à ocupação #FestivaldoRio, vejam algumas das “pérolas” em 140 caracteres encontradas na hashtag. Valerá para afastá-los de bizarrices nos próximos dias e aproximá-los dos títulos que devem ser conferidos na repescagem ou na distribuição em salas do circuito exibidor.
Helena Sroulevich
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Até o momento, cerceado por restrições e vicissitudes incompatíveis com minha paixão pelo ofício de Truffaut, conferi apenas cinco produções no Festival do Rio. Até o final da maratona pretendo assistir a, pelo menos, mais cinco filmes. Mas quantidade não é sinônimo de qualidade.
Apesar de, até agora, nenhuma realização ter me arrebatado, a árdua luta pelos ingressos foi recompensada com excelentes trabalhos. Já escrevi sobre alguns aqui no blog.
Vou destacar rapidamente mais dois, que talvez sejam os melhores da minha curta lista (só o tempo dirá):
“Líbano” (2009), de Samuel Maoz, filme que levou para casa, em 2009, o Leão de Ouro do Festival de Veneza.
Ambientado na época da Primeira Guerra do Líbano (1982), quando o exército de Israel resolveu invadir o território libanês, o filme desvela os horrores da guerra de forma inusitada. Praticamente toda encenação é sufocada dentro de um tanque de guerra israelense.
Nele (ou melhor, dentro dele), um grupo de militares (jovens recém-saídos de simuladores de jogos de guerra, que nunca atiraram em alguém que esguichasse sangue de verdade) recebe ordens de invadir território inimigo. O diretor midiatiza a guerra pelo periscópio frio de um veículo militar, submerso no sangue de centenas de corpos, em cujas entranhas de metal é incubada a contradição humana.
Ao mesmo tempo que distancia aqueles homens do que ocorre em campo, o ambiente claustrofóbico catalisa os conflitos de pessoas que querem sobreviver – e estão dispostas a tudo para isso, mesmo que seja necessário contrariar ordens, flertar com a loucura e se submeter ao ridículo − a um conflito que beira o incompreensível.
“Essential Killing” (2010), de Jerzy Skolimowski. Vincent Gallo, no papel do protagonista desse ‘No limite’ polonês, com pitadas de ‘Caçado’ (William Friedkin, 2003), arrebatou o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza.
Vincent Gallo, o sujeito passivo de uma das cenas de sexo oral mais impactantes do cinema não pornográfico (“The Brown bunny, 2003), encarna de forma visceral um guerrilheiro afegão (Mohammed) capturado por tropas americanas após ter matado três soldados – o ator, “torturado” pelo diretor, que o colocou em situações extremas, agora verá seus órgãos sexuais procurarem refúgio em seu abdômen ao enfrentar temperaturas abaixo de zero. Levado para local não identificado, ele consegue fugir de seus algozes e se embrenha em terreno selvagem na busca desesperada da liberdade.
Precisando suprir as necessidade mais básicas do ser humano, Mohammed pressente a humanidade se esvair ao se transformar numa espécie de wolverine muçulmano. À procura de comida e abrigo, e digladiando-se contra as intempéries, ele, incapaz de se comunicar pelas diferenças de idiomas – no filme, Gallo só emite ruídos ininteligíveis −, se torna proficiente em mecanismos de defesa, relativizando seus valores morais para garantir que suas funções vitais não entrem na linearidade dos cemitérios.
Vivendo um Bear Grylls às avessas, Vincent Gallo tateia a cartilha ambígua de sobrevivência do sujeito à beira do precipício das privações.
Skolimowski, alijando seu personagem dos insumos capazes de saciar seus imperativos fisiológios básicos (e de sua dignidade), nos lembra da frase de Nietzsche que diz mais ou menos assim: “Quando você olha para o abismo, o abismo também olha para você.”
Ambos os filmes merecem registro, não podem passar em branco.
Carlos Eduardo Bacellar
Arquivado em Carlos Eduardo Bacellar, Filmaço!!!
“Pinto no lixo”. É assim que os cinéfilos cariocas se sentem em seu carnaval fora de época – o Festival do Rio. “A gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho” e aproveita cada uma das 300 “micaretas” a nosso dispor. E o resultado você conhece nas microresenhas (do Twitter) logo abaixo. Tem de tudo. Coisa de “Doidos por Cinema”. E de “pinto no lixo”.
Arquivado em Helena Sroulevich
Cinéfilos e twitteiros de plantão, uni-vos!
O registro do Festival do Rio não deve passar em branco. Sendo assim, de hoje até o dia 07 de outubro (e quiçá na repescagem também), publicaremos aqui no blog as “microresenhas” de 140 caracteres dos filmes programados no Festival.
E qual a melhor parte disto? Você também pode participar desta “doideira” pela sétima arte.
Bora ocupar o cyberespaço do #FestivaldoRio com a gente?
Siga as instruções:
Sempre que assistir a um dos 300 filmes do Festival, “tuíte” sobre ele iniciando seu ponto de vista com #FestivaldoRio. A triagem dos tweets com esta tag (#FestivaldoRio) será feita diariamente e entraremos em contato com você para publicarmos a sua microresenha.
Fácil, não? É só botar a cuca pra funcionar em 140 caracteres e o resto a gente faz.
Agora, se você faz o tipinho ansioso (como meu companheiro de blog CEB), mande um lembrete sobre a sua microresenha publicada para o twitter @doidoscine e logo falaremos com você. Isto pode agilizar o processo. 🙂
Os primeiros filmes contemplados são (*):
(*) Razão: é mais fácil pedir permissão de publicação a mim mesma. 😛
E tô aguardando as microresenhas de vocês. BORA!
Helena Sroulevich
Arquivado em Helena Sroulevich
El Último Comandante conta a história de Paco Jarquín, o mais combativo e carismático comandante da Revolução Sandinista (da Nicarágua), que, ao contrário de seus companheiros de combate, preferiu renegar seu passado glorioso para viver no anonimato como instrutor de dança.
Foram necessários 14 anos para que o filme, dirigido por Isabel Martínez e Vicente Ferraz, começasse sua trajetória na telona. A obra chega aos cinemas da Nicarágua agora em setembro e às terras costa-ricenses em outubro. Ainda sem distribuição garantida no Brasil, o filme é aguardado na sessão Latina do Festival do Rio, depois de ter conquistado o prêmio de melhor ator no Cine Ceará deste ano.
Entre um respiro e outro, Vicente respondeu a algumas de nossas curiosidades acerca da obra, deixou seu recado ao potencial público e adiantou: “Na Nicarágua, o filme já causa polêmica por ser crítico aos Sandinistas que estão no poder. Mas os velhos e bons Sandinistas, aqueles que estão na oposição ou são perseguidos, nos apoiam.” Confira o nosso papo com ele.
1. Por que contar a história do Comandante Paco Jarquin em cinema?
Eu e a Isabel tivemos vivências diferentes da Revolução Sandinista, mas que em um determinado momento se cruzaram.
Apesar de nascida na Costa Rica, Isabel viveu todos aqueles anos na Nicarágua. Seus pais foram desde cedo colaboradores da FSLN em San José e depois foram para Manágua ajudar o governo revolucionário. Passou sua juventude acompanhando e vivendo a Revolução de perto, seja na alfabetização, nas milícias ou nos cortes de café. Muito para uma jovem de uns 19 anos.
Para mim, a Revolução Sandinista foi a última revolução socialista no mundo, no sentido clássico de um levante popular e na mudança radical de um regime e sistema econômico. Se outras gerações tiveram a Revolução Cubana como modelo, pra minha foi a Sandinista. Lembro que na eleição de 89 Lula e o PT falavam do exemplo da Nicarágua, isso para ficar apenas aqui pelo Brasil…
Meus anos 80 foram vividos intensamente torcendo pelos “Nicas” e sua jovem revolução, que era muito mais pluralista e livre que as anteriores. Mas, por ironia do destino, também foram anos marcados pelo Reagan, Thacther, Lech Walesa, Papa…enfim, a volta dos conservadores em vários países! E, por conta disto, essa revolução, desde o início, sofreu uma guerra implacável por parte do governo americano, algo muito pior que Cuba sofreu em seus 50 anos de socialismo. A finalidade era abalar a economia e a credibilidade do governo, além de que cooperativas agrícolas eram queimadas, escolas, destruídas, bloqueios de abastecimento, enfim, um boicote total à sua economia. E mais de 80.000 jovens morreram nesta guerra injusta.
Por outro lado, o mundo todo se solidarizou. Gente de todas as partes viajavam à Nicarágua para apoiar o processo revolucionário, principalmente Governos e a então Social-Democracia europeia. Talvez por isso teriam matado a Oloff Palm primeiro ministro Sueco?! E naquele mesmo tempo me lembro, com inveja, de uma brigada de jovens que saíram do Rio para colher café lá. Ufa…estórias antigas… 😀
Bem… depois disso fui à Cuba estudar cinema e Isabel também. Estávamos como outros estudantes latino-americanos e de outras partes do “Terceiro Mundo” (ainda não tinha caído em desuso esse termo). Naquela época, vimos a caída do Muro de Berlim, a URSS se esfarelando, os Sandinistas perdendo as eleições depois de 11 anos de guerra com os Contras financiados pela CIA. E Cuba começando o “período especial” !!!! Tudo muito triste…
E voltamos juntos a Manágua algum tempo depois, onde vimos o fim de um sonho e o começo de um pesadelo. Sem falar, de termos visto a Contra no poder e acompanhar de perto o que foi chamado de Piñata: a apropriação de bens do Estado por membros do Governo Sandinista, muitos deles, ex-comandantes. Saque geral!! Nos sentimos totalmente traídos!
Isso foi há quase vinte anos e essa foi a grande marca que levamos da nossa juventude: o fim das utopias!
Tudo isto levou a uma reflexão. A ideia era fazer um filme que fosse uma crônica bem humorada disso tudo, e por isso inventamos a personagem do décimo comandante, (apesar de na realidade ter existido apenas nove) e por isso se chama Paco Jarquim.
2. A Revolução Sandinista foi um movimento urbano revolucionário que influenciou resistências e acontecimentos importantes, não somente na América Central, como em todo o continente latino-americano. Como você percebe a relevância do “El Ultimo Comandante” na atual conjuntura global, e no atual momento político brasileiro?
Não temos nenhuma pretensão quanto a relevância do nosso filme. Como falei anteriormente, é apenas uma prestação de contas com o nosso passado e também um releitura do processo Nicaragüense. Lembre-se que Daniel Ortega (FSLN) é o atual presidente da Nicarágua e, como uma grande ironia do destino, chegou ao poder apoiado pelos antigos adversários: Somozistas e ex-Contras e etc. E ainda com discurso Bolivariano!?
Acho que essa história tem muito a ver com a esquerda no poder hoje em dia na América Latina. Ter apenas um projeto de poder, sem uma ideia, um sonho. É muito triste para a minha geração saber que Chávez é o modelo de governo Socialista. Isso para mim é uma afronta!
3. Como o filme foi financiado e quais dificuldades foram enfrentadas por vocês no período de captação de recursos?
O Ultimo Comandante foi feito com unhas e dentes. Foram 14 anos tentando terminar o filme. Fazer cinema na América Central, e naquela época que começamos, era uma loucura!!! Por isso tivemos que interromper as filmagens por 10 anos. Terrível. Recebemos apenas pequenas ajudas de ONGs e alguns investidores locais. Mas foi fundamental e decisivo o apoio do Fundo Cinergia, uma espécie de mini Ibermedia para America Central e Caribe. Depois tivemos o apoio no Brasil da Teleimage e dos estúdios de som Play it Again. Sem falar que contarmos com a participação de Damián Alcazar como protagonista, um dos maiores atores latino-americanos do momento que desde sempre apoiou a ideia do filme.
Acho que quem está lendo não é capaz de acreditar que um filme possa demorar tanto tempo para ser feito. No Brasil ele se chamaria um BBBO.
4. Se pudesse deixar um recado para o potencial público, qual seria?
Que tenham curiosidade de conhecer um pouco da história da Revolução Sandinista contada de um ponto de vista humano e com humor.
Agora é com a gente. Vamos prestigar no Festival do Rio, galera! Merda ao Vicente e à Isabel. 😉
Helena Sroulevich
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