Arquivo da tag: Julianne Moore

Dramas humanos não distinguem opção sexual

Amigos leitores,

Republico aqui no blog (com uma ou outra pincelada) as linhas principais da minha crítica do filme “Minhas mães e meu pai”, da diretora Lisa Cholodenko, que estreia no circuito amanhã.

Tive a oportunidade de conferir a produção no último Festival do Rio. A cineasta radiografa os conflitos emocionais de um casal homossexual, interpretado por Julianne Moore e Annette Bening, que precisa lidar com os distúrbios afetivos causados pela intrusão de Paul (Mark Ruffalo), pai biológico — leia-se doador de sêmen — dos dois filhos das lésbicas, na intimidade da família .

Vamos ao texto:

Nas planilhas Excel de quem transitou pelo circuito do Festival do Rio, disposto a conferir o máximo de filmes possível, uma das produções obrigatórias era “The kids are all right” (no original).

A diretora californiana Lisa Cholodenko, que tem o currículo recheado de experiências com séries de televisão, aproveitou o fascínio da atriz Julianne Moore por projetos mais autorais e a cooptou para, ao lado de Annette Bening, desmistificar os dramas de um casal de lésbicas às voltas com os desafios de criar uma família (dita) não convencional.

“Pães” de Joni (Mia Wasikowska, a Alice versão Senhor do Anéis de Tim Burton), de 18 anos, e Laser (Josh Hutcherson), de 15, ambos concebidos por inseminação artificial, Nic (Annette) e Jules (Julianne) são pegas de calcinha na mão quando os filhos resolvem conhecer Paul, o pai biológico, digo, doador do sêmen que os gerou, interpretado por Mark Ruffalo.

À força de sua postura descolada e um estilo de vida desencanado e liberal, Paul conquista seus “filhos” e obriga Nic e Jules a lidarem com a eventualidade de um elemento estranho no seio da família.

O macho-alfa vivido por Paul é o composto trinitrotoluênico que adiciona testosterona ao excesso de estrogênio e explode as camadas superficiais de compostura, revelando as inseguranças do casal homossexual. Inseguranças universais.

O refinamento deste drama, temperado com humor inteligente, é percebido na composição emocional dos personagens; e na forma como interagem uns com os outros. Nic e Jules trafegam pelo ciúme, preocupação, desejo, excitação, frustração… Sentimentos que acometem qualquer ser humano.

E aí é que está… Lisa Cholodenko confirma que o preconceito é algo tão ultrapassado que passa longe da construção moral e comportamental daquele núcleo familiar. Sem esquematismos ou estereótipos, Julianne Moore e Annette Bening retransmutam o (que não deveria ser) extraordinário para o (que sempre foi) ordinário de forma orgânica.

O brilhantismo reside aí: duas pessoas que se amam tentando criar seus filhos da melhor maneira, sem nem sequer se darem conta de que suas atitudes não são (graças a Deus!) condicionadas por rótulos estúpidos – às vezes o pior preconceito é o alimentado pelo sujeito paciente. Família disfuncional sim, mas como a minha e a sua, ponto final.

As dificuldades na construção e manutenção de um relacionamento – e a convulsão emocional inerente − são assexuadas.

Carlos Eduardo Bacellar


Deixe um comentário

Arquivado em Carlos Eduardo Bacellar, Filmaço!!!

Dramas humanos não distinguem opção sexual

Nas planilhas Excel de quem transita pelo circuito do Festival do Rio, disposto a conferir o máximo de filmes possível, uma das produções obrigatórias é “The kids are all right” (no original).

A diretora californiana Lisa Cholodenko, que tem o currículo recheado de experiências com séries de televisão, aproveitou o fascínio da atriz Julianne Moore por projetos mais autorais e a cooptou para, ao lado de Annette Bening, desmistificar os dramas de um casal de lésbicas às voltas com os desafios de criar uma família (dita) não convencional.

“Pães” de Joni (Mia Wasikowska), de 18 anos, e Laser (Josh Hutcherson), de 15, ambos concebidos por inseminação artificial, Nic (Annette) e Jules (Julianne) são pegas de calcinha na mão quando os filhos resolvem conhecer Paul, o pai biológico, digo, doador do sêmen que os gerou, interpretado por Mark Ruffalo.

À força de sua postura descolada e um estilo de vida desencanado e liberal, Paul conquista seus “filhos” e obriga Nic e Jules a lidarem com a eventualidade de um elemento estranho no seio da família.

O macho-alfa vivido por Paul é o composto trinitrotoluênico que adiciona testosterona ao excesso de estrogênio e explode as camadas superficiais de compostura, revelando as inseguranças do casal homossexual. Inseguranças universais.

O refinamento deste drama, temperado com humor inteligente, é percebido na composição emocional dos personagens; e na forma como interagem uns com os outros. Nic e Jules trafegam pelo ciúme, preocupação, desejo, excitação, frustração… Sentimentos que acometem qualquer ser humano.

E aí é que está… Lisa Cholodenko confirma que o preconceito é algo tão ultrapassado que passa longe da construção moral e comportamental daquele núcleo familiar. Sem esquematismos ou estereótipos, Julianne Moore e Annette Bening retransmutam o (que não deveria ser) extraordinário para o (que sempre foi) ordinário de forma orgânica.

O brilhantismo reside aí: duas pessoas que se amam tentando criar seus filhos da melhor maneira, sem nem sequer se darem conta de que suas atitudes não são (graças a Deus!) condicionadas por rótulos estúpidos – às vezes o pior preconceito é o alimentado pelo sujeito paciente. Família disfuncional sim, mas como a minha e a sua, ponto final.

As dificuldades na construção e manutenção de um relacionamento – e a convulsão emocional inerente − são assexuadas.

Confira as próximas sessões do filme no Festival aqui.

E não quero ninguém aperreado caso não consiga ingresso. “The kids are all right” já tem distribuição garantida. E não só ele. Veja quais são os outros filmes que reservaram seu espaço no mercado exibidor nacional aqui (todo crédito para a jornalista Erika Azevedo, do jornal O Globo). Alguém disse ufa?

Carlos Eduardo Bacellar

Deixe um comentário

Arquivado em Carlos Eduardo Bacellar, Filmaço!!!

O que os olhos não veem, o coração sente

O cineasta egípcio Atom Egoyan, nascido Atom Yeghoyan, esculpiu em seu “O preço da traição” (2009), que acaba de chegar às locadoras, um tratado acerca da paradoxal solidão conjugal.

Em “Chloe” (no original), ladeado por dois monstros da dramaturgia, Liam Neeson e Julianne Moore, o diretor identifica carências e a falta de comunicação afetiva que desestabilizam o núcleo de uma família americana de classe média alta.

Catherine (Moore) é o modelo da mulher de meia idade de sucesso que não resiste às rachaduras do tempo geradas pela insegurança. Médica de prestígio, ela é casada com o sedutor professor David (Neeson). Ao ser negligenciada como mulher, Catherine suspeita que seu marido a está traindo.

Para livrar-se das dúvidas, ela contrata os serviços de Chloe, garota de programa interpretada pela bonequinha de luxo (Mamma Mia!) Amanda Seyfried, para confirmar se David realmente está “comendo fora de casa”. Chloe acaba extrapolando sua função e deslizando para o envolvimento doentio.

A partir dos relatos inflamados da profissional do sexo sobre os encontros sexuais que teve com David, Catherine se reaproxima metaforicamente de seu companheiro e redescobre sua sexualidade por meio da excitação da outra. Masturbação verbal que se torna um vício para Catherine. A médica passa a sublimar seu tesão enrustido sorvendo as narrativas apimentadas acerca das peripécias extraconjugais de seu homem, e, confusa, não enxerga mais com clareza as fronteiras da fidelidade.

“Adoro mulheres mais velhas. Essa coroa ainda dá um caldo.”

Julianne Moore, que lapida sua capacidade dramática intercalando trabalhos mais autorais com potenciais blockbusters, brilha no papel de uma esposa que desaprendeu a linguagem da intimidade, esmagada pela rotina, e se angustia com o distanciamento mais pungente que existe: o da pessoa que ama.

David, numa versão ambígua do macho-alfa − ora demonstrando ser responsável e racional, ora inconsequente e impulsivo −, e Chloe, a prostituta que procura nos programas efêmeros um paliativo para seu vazio existencial, completam a estrutura de um triângulo que subjetiva a verdade e coloca a confiança à prova numa história na qual traição, desejos latentes e dissimulação se confundem.

Carlos Eduardo Bacellar

2 Comentários

Arquivado em Carlos Eduardo Bacellar, Quase uma Brastemp

Um homem especial, solteiro, único e singular

“Direito de Amar” infere uma questão amorosa. O título, entretanto, subestima o potencial de “A Single Man”. Apostaria em “Um homem especial”, “Um homem solteiro”, “Um homem único”, ou ainda, “Um homem singular”, e garanto: se o objetivo (como sempre) é atrair o maior número de mulheres ao cinema, Colin Firth ganha de qualquer idéia de dramalhão mexicano. Foi consagrado no coração feminino desde “Shakespeare Apaixonado” e “Bridget Jones”. E quando deu vida ao escritor inglês Jammie Bennet, de “Simplesmente Amor”, 2003, fez com que todas nós caíssemos de quatro e sem volta.

Em “A Single Man”, arrebata. Na pele do professor universitário, Colin Firth deve ter sido digno de um mano a mano pra lá de complicado na contagem final dos votos que oscarizaram Jeff Bridges (“Coração Louco”) . Com um arsenal de efeitos sensoriais – e apurado silêncio -, bombardeia a dor da perda do grande amor em todos nós – sem distinção de gênero, raça ou orientação sexual. E faz o filme roteirizado, dirigido e produzido por Tom Ford, grande revitalizador da marca Gucci a partir dos anos 90, ir além do rigor preciso – nada over – da direção de arte.

O senso estético contextualiza um dia na vida de George (Colin Firth), logo da perda de seu companheiro Jim (Matthew Goode), com quem manteve um casamento de 16 anos. Certo de seu suícidio, resgata memórias, sensações, dúvidas e amores, como Charley, a maravilhosa Julianne Moore. Generosidade mútua é o que se vê nas  cenas protagonizadas por ambos. Lindo de ver. Como em qualquer experiência extrema de reflexão, a morte mora a um gatilho. Mas, ao final, a sábia opção pela vida, sempre a vida, de um homem especial, solteiro, único e singular.

Helena Sroulevich

E todas merecemos suspirar pelo Colin Firth, pedindo Aurélia em casamento, em português, no fofo “Simplesmente Amor”.

Deixe um comentário

Arquivado em Filmaço!!!, Helena Sroulevich