O justiceiro mascarado

Atrás de alguma novidade na locadora, esbarrei no nome de Eva Green na capa de “Franklyn” (2008) — “O justiceiro mascarado”, na tosca tradução para o Português –, produção do desconhecido diretor inglês Gerald MacMorrow.

Lançado por aqui diretamente em DVD (eu me lembraria se Eva Green tivesse entrado no circuito), é mais uma realização da indústria que escorreu pelo ralo do mercado exibidor e esgueirou-se para as estantes das locadoras, fazendo companhia a filmes como “Acima de qualquer suspeita” (2009) – que tem nada mais nada menos que Michael Douglas nos créditos – e “Tá rindo do quê?” (2009), assinado pelo renovador do gênero comédia Judd Apatow. Estou tentando vencer meu preconceito de filme-que-vai-direto-para-a-locadora-é-um-lixo.

A narrativa de “Franklyn” transita entre dois mundos paralelos: a lúgubre, mas não menos charmosa Londres contemporânea, e uma distópica cidade futurista – Meanwhile City – controlada pela opressão religiosa. O início prometia: “A religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira; pelos sábios como falsa; e pelos governantes como útil”. Depois disso, a coisa desandou.

A história envolve quatro indivíduos, dilacerados entre as duas realidades, que caminham para uma interseção definidora. Ryan Phillippe é o justiceiro mascarado (e que máscara sensacional!) Jonathan Preest, que corre atrás de um dos líderes religiosos de Meanwhile City – o Indivíduo –, apontado como o assassino de uma menina. Peter Esser, interpretado por Bernard Hill, é um pai inconformado com o sumiço de seu filho, e que não mede esforços para encontrá-lo. Sam Riley, que vive Milo, é um jovem que tem o coração partido ao ser abandonado por sua noiva. Por fim, a inigualável Eva Green, uma aspirante a atriz suicida, que exala inconformismo com a separação de seus pais e a falta de atenção de sua mãe – suas performances artísticas são um grito macabro de socorro.

O filme – com ares de “V de Vingança” (2005) – até possui um argumento interessante, mas o desenvolvimento da trama é mal conduzido. O roteiro é confuso e, na tentativa de criar algo surpreendente, acaba por ser mirabolante em excesso, deixando furos imperdoáveis que prejudicam o andamento e o entendimento do drama.

Apesar de poderosa, Eva Green não é suficiente para prender a respiração do espectador por 97 minutos, ainda mais dividindo a atenção com as fracas atuações dos outros personagens – só quem se salva é Hill.

Quem quiser curtir o charme de Eva em todo seu esplendor, eu sugiro o aluguel de “Os sonhadores”, obra de Bernardo Bertolucci. Só cuidado para o seu coração não ficar irremediavelmente perdido pela magia daquela pele alva e sardenta, e pelo poder daqueles olhos claros que ameaçam a hegemonia de Vera Farmiga.

Fecho com estas palavras de Preest: “Se Deus deseja impedir o mal, mas não é capaz, ele não é onipotente. Se é capaz, mas não deseja, é malévolo. Agora, se não é capaz nem deseja, então por que chamá-lo de Deus?”. Deus não seria uma metáfora para mercado exibidor?

Carlos Eduardo Bacellar


10 Comentários

Arquivado em Aprecie com Moderação (dá um caldo), Carlos Eduardo Bacellar

10 Respostas para “O justiceiro mascarado

  1. Para falar a verdade o filme é sim bem confuso, mas depois de certo tempo dá pra associar “os dois mundos”, gostei muito do filme 🙂

    • Eu sou tendencioso para falar, Leonardo. Alugo filmes da Eva Green no automático. Hehehehehehe!
      Mas, falando sério, essas narrativas que exploram a loucura devem ser muito bem construídas. Caso contrário, o filme se perde tentando parecer mais esperto do que realmente é. Mas todos os pontos de vista devem ser respeitados. Muitas vezes você será capaz de enxergar coisas que eu não conseguirei.
      Abraços!
      CEB

  2. Allan

    Pra ser sincero, o filme não é TÃO ruim. Só é confuso. Os atores trabalham muito bem, mas ninguém pode fazer milagre com uma história tão confusa!!

    • Allan,
      O filme tem muitos pontos positivos. O principal deles é a escalação da Eva Green 🙂 Sempre ela…
      Talvez precise da mágica de Charlie Kaufman para desembolar o meio de campo do roteiro. Quem sabe?
      Não se esqueça do trabalho genial que ele e Michael Gondry realizaram em “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” (2004).
      Abraços!
      CEB

  3. Deg

    tá, doido. tava pensando em assistir, mas depois do se comentário eu desisti, essa conversia de que Deus não é onipotente, é malévolo e que não é Deus. Olha sinceramente, o cinema de Hollywold, tem muitos filmes confusos, mas esse alem de confuso é mal trabalho, sem roteiro, sem conecxão, sem sentio algum, tosco e para não derrubar mais incrédulo. por, criar um filme sem noção é uma coisa, criar uma aberração é outra meu filho. NUNCA vou assistir, NUNCA assistirei, e NUNQUINHA DA SILVA perderei meu tempo asistindo nem ele e nem os filmes que são do mesmo genero, dos que renegão DEUS.

    • Caramba, Deg… O filme não é de todo ruim, apesar de a trama rocambolesca ser meio artificial.
      Se você der uma chance à produção, ela poderá te surpreender.
      O meu entendimento é só um entendimento. A pluralidade de olhares é sempre necessária.
      Apareça sempre.
      Abraços!
      CEB

  4. Lucas

    Religião é veneno, e o deus cristão é uma alienação q nao existe. Tenho dito.

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