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The Tree of Life

Tudo que eu posso dizer do Terrence Malick depois de ter assistido à “A árvore da vida” é: he is such a believer. E definitivamente o júri do Festival de Cannes has chosen the path of grace.

O filme narra duas histórias em paralelo. A de uma típica família americana da década de 50 do século passado dividida entre a religião (a mãe) e a ordem (o pai), principalmente depois da morte de um dos filhos; e a trajetória de alma que vaga do filho mais velho, vivido na idade adulta por Sean Penn, que questiona o significado da vida, da existência e da fé a partir de suas carências infantis. O pano de fundo da (s) história (s) é a descoberta da natureza — em toda a sua forma  e existência divina — e a relação dos seres humanos com as distintas manifestações de (e da falta de) espiritualidade. Filme totalmente incrível, daqueles de nos fazer pensar por horas depois de deixar a sala de cinema. Eu fiquei completamente mareada, transtornada, por umas boas três horas.

Helena Sroulevich

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This must be the place

Foi um tapa na cara antissemita do Lars Von Trier. “This must be the place”, de Paolo Sorrentino, revela a história de Cheyenne, roqueiro caído no ostracismo dos seus 50+ anos, que busca dar sentido em sua vida ao vingar a história de seu pai, quase vitimado num campo de concentração nazista por um alemão de 90+ anos que hoje peregrina pelos EUA.

É bacana por tentar dar um novo curso à história, como “Bastardos Inglórios” do Quentin Tarantino, mas poderia evocar a relação judaísmo-espiritualidade de uma maneira mais latente como parte da busca do personagem de Sean Penn. Além disso, o nosso sensacional ator não precisava ser caracterizado como Edward Mãos de Tesoura. Francamente, Sorrentino…

Helena Sroulevich

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Drive

Estava com preconceito. Tudo me levava a crer que “Drive” seria puramente um filme de menino. Mas não é que eu gostei? Afinal, o que mais precisa um filme de ação senão carros, violência, boa estrutura narrativa e câmera agressiva? 🙂 Ah… precisa de um casinho de amor, vivido de maneira competente entre a Carey Mulligan e o (the best) Ryan Gosling, para que as meninas se entretenham no cinema enquanto seus namorados se deliciam com cada jato de sangue que parece jorrar tela afora.

Helena Sroulevich

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Once upon a time in Anatolia

Já era fã de “Three Monkeys”. E confesso que depois que conheci o turco gente boa Nuri Ceylan, torci ainda mais para que “Once upon a time in Anatolia”, o novo filme dele exibido em Cannes, rendesse frutos na premiação. E não é que deu certo?

Mais do que torcida, merecimento. Daqueles filmes que prendem até o final. Mas que se desapega do final, do resultado. O fundamental é o caminho percorrido pela narrativa que envolve suspeitos, hipóteses, pistas e crime. É tudo meio abacadabra mesmo, quase como se estivéssemos jogando “Scotland Yard” ou adentrado alguns dos mistérios do detetive belga Hercule Poirot dos livros da Agatha Christie.

E mais: tudo isso reforçado pela direção precisa, que revela a dimensão humana e moral das pessoas envolvidas em um crime, e pela direção de fotografia absolutamente sensacional — luz de arrepiar e fazer chorar as retinas cinéfilas. “Era uma vez em Anatolia”…

Helena Sroulevich

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La source des femmes

Foi daqueles filmes que me deixou pensando… Não pelo sono (inerente ao horário, pois assisti às 8h30), mas por ter um viés essencialmente feminino (e não feminista como muitos podem acreditar). Também aborda questões como as das reservas hídricas, cruciais ao entendimento geopolítico/religioso do Oriente Médio, e tão em voga em debates em torno das mudanças climáticas.

O novo filme de Radu Mihaileanu está centrado na greve sexual organizada pelas mulheres com o objetivo de mobilizar seus homens a construírem um sistema hidráulico e, mais do que isso, dividirem com elas o trabalho pesado de carregar caixas d’água de uma fonte distante do vilarejo onde residem para suas casas. Estabelecendo a analogia de que as mulheres precisam do amor de seus homens tanto quando a vida na Terra precisa de água, o filme revisita o Alcorão revelando amor e igualdade de gêneros naqueles escritos e é um hino na busca pela compreensão entre homens e mulheres, também necessária à promoção da paz no Oriente Médio.

Helena Sroulevich

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La Piel que Habito

Não adianta. Pedro Almodóvar é o rei da transgressão. E eu poderia parar por aqui.

Fã de carteirinha do rapaz (quem me conhece, sabe…), tenho aquela predisposição para amar tudo que ele faz. Mas não é gratuito. Juro. O cara ousa completamente. Em tudo. Em “La Piel que Habito”, parte da mostra competitiva aqui de Cannes, conta a história de amor, “re-amor”, ódio, vingança e sangue — muito sangue — que envolve a troca de sexo (i.e. vaginoscopia) de Vicente/Vera (Jan Cornet/Elena Anaya) pelo cirurgião plástico Robert (Antonio Banderas, DEMAIS!). Nas entrelinhas, Almodóvar ainda critica os métodos inescrupulosos e politicamente incorretos, como o uso de transgênicos, que “doutores” usam para operar pacientes.

Este é daqueles filmes que TÊM QUE SER vistos. Ponto final. Almodóvar no alto da maestria (aliás, que roteiro!!). Meu pai saudoso, Nei Sroulevich, adoraria! É o tipo de filme dele. Aliás, as comuns tiradas brasileirinhas, também parte deste filme, que revelam um afeto especial de Almodóvar pelo nosso país, não devem ser gratuitas. Almodóvar ganhou o Brasil e a América Latina com “O Matador” (1986) e “A Lei do Desejo” (1987) no antigo FestRio. E quem dirigia o Festival era o papai. Ou seja, o mundo dá voltas, mas sempre cai no mesmo ponto. 😀

Helena Sroulevich

P.S. Minha ótima professora de redação Raquel Falabella diria para eu jamais começar um texto com “Não”. Mas NÃO teve jeito. Porque, SIM, Almodóvar é o rei da transgressão.

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O Abismo Prateado

A dor do amor mesclando planos longos e profundo silêncio. Esta aí a competência do Karim Ainouz.

Assisti cinco vezes (no cinema) a “Viajo porque preciso, volto porque te amo” e antes já era fã de “Madame Satã”, o que deixa o Karim com uma responsabilidade: me surpreender sempre. Mas ele consegue. E como. Em “O Abismo Prateado” conta a história de Violeta (Alessandra Negrini), a dentista abandonada por Djama (Otto Jr.) que embarca para Porto Alegre, “sem mais, nem porquê”, depois de um ato de profundo amor entre os dois. E a história é feita pra ninguém entender mesmo. Ou melhor, entender/sentir tudo. Ouça a canção.

Carlinhos Bacellar, o maroto de sempre, questionaria sobre o filme: quem em sã consciência abandonaria a Alessandra Negrini? Concordo. Embora mulheres não façam o meu tipo.

Aproveito e compartilho uma LAST MINUTE INFORMATION: garanti ingresso para o Pedro Almodóvar, o meu rei da trangressão! Amanhã, às 8h30 da matina, o meu encontro será com ele! Uhuu!

Helena Sroulevich

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Le Havre

Eu queria aplaudir de pé. Mas fiquei batendo palma, batendo palma, sentada mesmo, até rolarem os créditos finais. Centrado nas questões imigratórias de africanos na Europa — realidade xenófoba que conheci de perto na Holanda e na Bélgica –, o filme mostra a história de Marcel Marx, um engraxate, que tenta ajudar um molequinho africano, ilegal na França, a viajar a Londres ao encontro de sua mãe. Só que tudo isto ocorre enquanto sua esposa está internada, quase “indo desta para melhor”. Com amor solidário, incondicional,  Marx se divide entre as duas empreitadas.

O longa de desfeixo surpreendente é cheio de tiradas politicamente engajadas (além do sobrenome Marx, óbvio :-), o que credita ainda mais o finladês Aki Kaurismaki; que poderia ter encontrado no delicioso roteiro sua zona de conforto. Não mesmo. Ele surpreende e dá show de direção. E a gente aplaude aqui. Que filme gostoso de assistir!

Últimas:

1. Claro que a minha parcela super-herói apareceu de novo. Hoje ajudei a resgatar um celular furtado.

2. Consegui entender o que acontece com o sistema online que denunciei. Há portadores de credencial com mais poderes do que eu. E isto faz com que os ingressos dos filmes sejam disponibilizados pra eles antes. Perdi mesmo “The Tree of Life” e já não estarei no “Melancholia” do Lars Von Trier. Deixa eu me arranjar no Marche du Film então.

3. Hoje tem filme do Karim aqui. Sou fã! Tomara que dê pra prestigiá-lo!

Helena Sroulevich

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L’apollonide (Souvenirs de la maison close)

Odeio quando filmes sobre “garotas de programa” as tratam como coitadinhas. Odeio. O filme visita um prostíbulo do século XIX e faz pouco além de mostrá-las como órfãs da escolha de vida que fizeram. Confesso que há partes bacanas como alguns ângulos de câmera bem inusitados e um plano-sequência que me deixou perturbada. Cadê o Felipe Reinheimer, meu diretor de fotografia do momento, para eu perguntar como é que o cara fez aquilo? Cheguei à conclusão de que viajar a Cannes em carreira solo só numa excursão… Tem tanta gente com quem eu queria conversar… Saudades de todos. E vocês sabem quem são.
Agora, a minha ida ao Lumière esta manhã para assistir à projeção não ficou no marasmo. Mesmo. Com aquela espiritualidade que me é peculiar (se estou aqui, deve ter alguma razão não óbvia…), ajudei a salvar a vida de alguém. Espero, ao menos. Um senhor calvo, 60+ anos, a três cadeiras de mim, começou a se sentir mal e escorregar escada abaixo (estávamos na última fila do balcão). Pedi à vizinha para ficar atenta caso uma respiração boca-a-boca fosse necessária. Perguntei ainda se ela sabia fazer massagem cardíaca. Ela disse sim. Desci calmamente e fui buscar ajuda.
O resgate demorou 8min até o pronto-socorro aparecer. E tudo no escurinho do cinema.
Helena Sroulevich
Comentário do editor CEB: a seguir o trailer de “L’ apollonide”. Repito, o trailer do filme, não do boca-a-boca (apesar de as duas dimensões, em algumas circunstâncias, mesclarem-se, não podemos confundir, neste caso, luta pela sobrevivência com o apelo erótico da produção — no caso, visando ao comércio do corpo).

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Arquivado em Fuja dessa roubada!!!, Helena Sroulevich

Michael

Looser eu. Perdi a sessão de “The Artist” esta manhã (por razões que só dizem respeito ao Morfeu) e paguei o pato. Ou melhor, o gambá. Foi entre dois suvacos franceses pra lá de “cheirosos” que assisti a “Michael” na Salle du Soixantième. Filme interessante cinematograficamente por explorar os silêncios e a câmera lenta da relação de pedofilia entre um cara de 35 anos e um molequinho. Mas a história em si deixa tudo meio subentendido ou não entendido, no meu caso. Como faz falta roteiro bem desenvolvido!

Aproveito o ensejo e relato: hoje fui violada pelo http://ticket.online-festival.com. Entrei no site de reserva de ingressos aqui de Cannes 5 min antes de disponibilizarem online as entradas para “The Tree of Life” e estranhamente ja estavam todas esgotadas. Como faz falta um pistolão… Deixa eu correr lá e descobrir o que eu tenho que fazer pra alcançar esta árvore da vida. Voilà! 

Helena Sroulevich

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Arquivado em Aprecie com Moderação (dá um caldo), Helena Sroulevich