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Sem armas e efeitos especiais mirabolantes: só cérebro

Quantas vezes você esperou ansiosamente por um filme e acabou se decepcionando no final? Eu já caí em várias roubadas e, em dias de fúrias, tenho vontade de pedir meu suado dinheirinho de volta.

É fato que a produção de trailers também é uma indústria – já diria Amanda Woods, personagem de Cameron Diaz em “O amor não tira férias” (2006), filme de Nancy Meyers. Para satisfação de aficionados por pôsteres, uma segmentação talvez capitalista dos cinéfilos, os estúdios também apostam na habilidade dos designers gráficos para aguçar a curiosidade por uma obra. E é justamente aí em que eu e “O espião que sabia demais” nos encaixamos.

De férias em Londres, fui metralhada por pôsteres de Gary Oldman no metrô, nos ônibus, por todos os lados daquela cidade fantástica. Minha primeira reação foi: “Opa, Gary Oldman?” A segunda: “Opa, Gary Oldman como protagonista?” Pronto, estava fisgada.

Em letras minúsculas, como em anúncios publicitários, outros nomes conhecidos: Colin “Mr. Darcy” Firth, Tom Hardy, Toby Jones, Mark Strong, Benedict Cumberbatch… Quem precisa de um trailer para se convencer de que um filme vai “arrasar quarteirões?”

Esperei mais de três meses até que a produção chegasse aos cinemas brasileiros. No fim de semana de estreia, lá fui eu, com o coração apertado e milhares de perguntas na minha cabeça – E se não for tudo isso? E se eu me decepcionar? Mas é possível se decepcionar com um Gary Oldman? Um Colin Firth? Às vésperas do fim do mundo, essa resposta eu tive: não é, meus caros.

O espião que sabia demais” é um filme inteligente, comedido, como há muito tempo não se via. Os espiões mais famosos do cinema (James Bond, Ethan Hunt e Jason Bourne) renderam-se aos efeitos especiais, aos músculos excessivamente torneados, às armas. George Smiley, de Gary Oldman, não faz parte desse clubinho, graças a Deus.

Smiley é um agente do MI6, que, após ser obrigado a se aposentar, recebe a missão de descobrir quem é o agente duplo infiltrado na organização. Recebe, na verdade, a mais inglória das tarefas: investigar os seus próprios parceiros, aqueles que deveriam ser fiéis aos mesmos propósitos que os seus. Já na casa dos 60 anos, ele fala baixo, tem gestos contidos e a reconhecida elegância inglesa, com seu terno bem cortado, casaco de chuva e cachecol de lã. Mal pega em uma arma durante os 127 minutos de filme; usa somente a inteligência e a observação minuciosa. A ausência de efeitos especiais não torna o filme nem um pouquinho menos interessante, tenha certeza disso.

O nome original – Tinker Tailor Soldier Spy – é curioso e explicado ao longo do filme, adaptado de uma obra de 1974 de John le Carré. Smiley, aliás, é um velho conhecido dos ingleses. No final da década de 70, era campeão de audiência na BBC.

Tom Hardy, sempre nos papéis do bonitão brutamontes, é uma boa surpresa da produção. Benedict Cumberbatch, que pode ser visto também em “Cavalo de Guerra”, continua, pra mim, uma incógnita. Vem sendo apontado por sites e revistas internacionais como uma das principais apostas para 2012, mas não teve uma atuação que justificasse tamanha expectativa. Colin Firth, para variar, só não supera Oldman.

Falando nele, 2012 pode corrigir uma das grandes injustiças desse mundo. Oldman não tem um Oscar. Ele nunca foi nem indicado a um, algo inimaginável até para Colin Firth, como revelou o intérprete do agente Smiley em entrevista ao The Sunday Times Magazine (vou vender meu peixe e sugerir que você confira essa matéria, ou pelo menos trechos dela, no meu blog).

Às vésperas do fim do mundo, eu torço pela paz mundial e pela salvação da humanidade, sem tanto esforço e tragédia como o anunciado no filme de Roland Emmerich. Também torço por menos injustiças; pela consagração de Gary Oldman, Meryl Streep de terno (sim, porque, assim como ela, ele pode fazer qualquer filme) e de um roteiro extremamente sagaz.

Tati Lima é autora do blog @osindicados e parceira querida do Doidos

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Deixa ela entrar na tua casa

Assim, como quem não quer nada, o canal MAX, da HBO, sem muita badalação, estreou na sua programação a produção sueca “Deixa ela entrar” (2008), de Tomas Alfredson — antes mesmo da chegada (já atrasada) do filme às locadoras. Ponto para os canais pagos.

Alfredson subverte o cânone de Bram Stoker e reinventa a estética de filmes de vampiro ao retratar o romance do retraído Oskar (Kåre Hedebrant), 12 anos, e a vampirinha Eli (Lina Leandersson), que, apesar de aparentar a mesma idade do menino — por causa da maquiagem dos sonhos de toda mulher, incluída no pacote da maldição –, carrega muita história por trás de seu olhar enigmático.

O amor improvável nasce do compartilhamento das carências que minam a sensação de pertencimento dos dois. O ingrediente sobrenatural, à moda “O feitiço de Áquila” (1985), desta vez aproxima almas improváveis — que encontram nas fragilidades do companheiro o encanto para fortalecer o relacionamento.

Confie em mim… Ninguém vai se lembrar de Bella e Edward depois deste filme. Ah, sim… Vem um remake americano por aí. Espero que os ianques não estraguem tudo (difícil…).

Veja os dias e horários das próximas exibições no MAX clicando aqui.

Carlos Eduardo Bacellar

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E os indicados são…

A simpática Tati, autora do espirituoso blog E os indicados são…, que este Doido lê sempre, comprou uma dica minha (que honra!) e postou lá no espaço dela: Melhor ressuscitação.

Comentei com ela acerca da cena que, na minha opinião, é a melhor cena de ressuscitação da história do Cinema: Bud Brigman (Ed Harris) trazendo Lindsey Brigman (Mary Elizabeth Mastrantonio) de volta à vida em “O segredo do abismo” (1989), do avatariano James Cameron.


Gostei da brincadeira, Tati. Acho que essas trocas deveriam rolar mais… E já que você provocou a fera… Quer saber mais uma? Então aí vai…

A mais romântica troca de mensagens em código morse da história do Cinema: Oskar e a vampirinha Eli que, mesmo separados por uma parede, ou por um caixão, conseguem trocar juras de amor e carinho em “Deixa ela entrar” (2008), produção dirigida pelo sueco Tomas Alfredson que revolucionou o tema. Fofo!

“S.O.S: Saudades da minha sanguessuga favorita”

O filme levou o Oscar do meu coração.

A gente ainda vai trocar muito, Tati. Obrigado pelo carinho 🙂

Beijos do amigo!

Carlos Eduardo Bacellar

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Fui mordido

“Deixa ela entrar” − filme que extrapolou as pretensões mais enlouquecidas de Bram Stoker e revolucionou o gênero −, do diretor sueco Tomas Alfredson, apesar de ter sido lançado em 2008, merecia ser concorrente vitalício ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

A história de amor entre a vampirinha Eli (Lina Leandersson) e o tímido e inocente menino Oskar (Kare Hedebrant) arrebata. Fui mordido e estou contaminado por toda eternidade. Minha colega de blog, Helena, escreveu uma crítica bem bacana sobre o filme: https://doidosporcinema.wordpress.com/2010/01/29/ela-entrou/

Vale a pena conferir (os dois: filme e crítica)!

Carlos Eduardo Bacellar

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Ela entrou!

O coquetel menino-carente-pré-adolescente-tímido-alvo-de-chachota é saguinário. Oskar, inocente, “Deixa ela entrar”, como quem não quer nada, e a cumplicidade (e o amor amigo!) se revela(m) através de experiências, desejos, segredos e dificuldades compartilhados.

Filmes como “A Hora do Espanto”, “Amor à Primeira Mordida” ou a saga “Crepúsculo” não fazem o meu gênero. Anne Rice me levou à “Entrevista com o Vampiro”. Tarantino mereceu que eu tomasse “Um Drink no Inferno”. O poderoso chefão Coppola me deu dever de casa com “Drácula”.  E meu entendimento acerca de vampiros começa e termina por aí.  Gosto de Drama.

Tomas Alfredson é um talento de Diretor. O roteiro dispensa falatórios quando câmera, luz e quadro dissecam os dramas: da solidão, da pré-adolescência, da velhice, da entrega, da necessidade de se enquadrar em um mundo em que, muitas vezes, é preciso matar para viver, destruir para ressurgir.

Deixa ela entrar é uma poesia da (atual) realidade de um pré-adolescente em formação. A vampirinha Eli entra no mundo imaginário e autodestrutivo de Oskar e passa a representar a compreensão das suas limitações e a possibilidade de crescimento que ele tem. Unidos – pelo bem ou pelo mal – experimentam a superação e os extremos dos atos de amor.

Helena Sroulevich

P.S. Como em qualquer história vampiresca, tudo começou na calada da noite de Natal, quando um súbito e-mail manchou meu inbox com o subject Deixa ela entrar. “Estou falando sério, Helena. Vá ver esse filme hoje, ou melhor, amanhã (faltam dez minutos para o dia 26).” Deixei ela entrar graças ao meu amigo e companheiro de blog Carlinhos e já assisti ao filme duas vezes no cinema. Se você estiver no Rio, não perca. O filme acaba de virar a semana no Estação Botafogo.

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Arquivado em Filmaço!!!, Helena Sroulevich