Arquivo do mês: janeiro 2010

Há algo de errado com Esther

Acaba de chegar às locadoras o thriller “A órfã”, do diretor espanhol Jaume Collet-Serra. A sufocante narrativa trata da história de um casal americano que sofre um trauma emocional após perder uma filha, que já nasce morta. Impedida de engravidar novamente, Kate Coleman, personagem interpretada pela poderosa Vera Farmiga, decide abrir as comportas de seu coração e despejar em algum pimpolho todo amor represado pelo natimorto. É aí que entra na história a perturbadora Esther (Isabelle Fuhrman, estupenda!!!)

O casal – o pai, John Coleman, é vivido por Peter Sarsgaard, figurinha fácil nessas produções que inquietam o espírito – resolve adotar uma criança para suprir as carências afetivas de Kate. Já pais de Max (Aryana Engineer), uma inocente menina com problemas auditivos, e do aborrecente Daniel (Jimmy Bennet), eles decidem enfrentar juntos os desafios de incorporar um novo membro ao seio da família. A felizarda é a talentosa e enigmática Esther, supostamente originária da Rússia e com um passado misterioso, com quem os Coleman esbarram numa instituição para meninas que aguardam por um novo lar. Não preciso nem falar que a família Coleman vai se arrepender amargamente da escolha. Eu disse toda a família.

A produção leva o selo da Dark Castle Entertainment. Formada no final dos anos 90 por alguns dos maiores nomes da indústria hollywoodiana – Joel Silver, Robert Zemeckis, e Gilbert Adler -, é uma divisão da Silver Pictures, produtora afiliada da poderosa Warner Brothers. A DC já assinou títulos como “A casa da colina” (“House on haunted hill”, 1999), “13 fantasmas” (“Thir13en ghosts”, 2001), “O navio fantasma” (“Ghost ship”, 2003), “Gothika” (2004) e “A casa de cera” (“House of wax”, 2005).

O filme acionou o meu “sentido Deixa ela entrar” (qualidade garantida). Caso você ainda não tenha visto, pare tudo o que você está fazendo, corra imediatamente para a locadora mais próxima de sua casa, peça o filme, voe para o primeiro aparelho de DVD disponível e se prepare para uma das mais angustiantes produções de suspense dos últimos tempos (à moda Hitchcock).

Carlos Eduardo Bacellar

Longo p.s. Perdi esse filme no cinema e estava contando os dias para o seu lançamento em DVD. Cada minuto de espera não valeu a pena. Um filmaço desses deveria ser desfrutado na telona, no intimismo escuro da tenebrosa sala 2 do Estação Botafogo, em uma sessão com poucos e desvirtuados sujeitos que estão ali aparentemente por acaso, espaçados em intervalos planejados nas poltronas, de forma que você só possa imaginar qual é a figura que está mais próxima de você.

Mas o DVD quebra um galho. Além do fato de que, em casa, você pode deixar a luz acesa e segurar firme um taco de baseball embaixo dos lençóis, sem pagar mico.

Garanto que vocês terão uma longa e tortuosa noite de insônia espiando cada sombra de suas casas, e irão se remexer na cama ao menor ruído. Calma, pessoal, deve ser só o vento. Ou não?

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Preparem as estacas: vampiras lésbicas podem invadir a sua casa!

No momento em que “Avatar” se consagra como a produção de maior bilheteria da história do cinema – batendo a marca de US$ 1,859 bilhão em ingressos vendidos no mundo -, chegou às locadoras, há poucos dias, o filme que deverá disputar o posto de maior bizarrice da sétima arte dos últimos tempos.

Assinado pelo diretor inglês Phil Claydon, “Assassinos de vampiras lésbicas” tenta embarcar na vampiromania capitaneada pelos filmes da série “Crepúsculo” e chupar o bagaço de uma temática que está se esgotando por excesso de exposição — muitas vezes deturpando um gênero consagrado pela literatura de Bram Stoker e lapidado pela obra-prima “Nosferatu”, de Murnau. Perdão… Na verdade, o título original do filme é “Matadores de vampiras lésbicas”. Explico o erro proposital: é incabível que a dupla de protagonistas tenha como objetivo exterminar o que há de interessante nesta criação inusitada, que são justamente (e somente) as vampiras lésbicas (!!!). Tal conduta deve ser tipificada como crime. No meu título — que não deturpa a essência — a semântica fica mais precisa.

A história (sem pé nem cabeça), imaginem vocês, transita em torno de um vilarejo inglês dominado por vampiras lésbicas que, entre uma refeição e outra, tentam ressuscitar Carmilla, a Rainha Vampira. Com que objetivo? Massacrar todos os homens da face da terra e se perder em orgias homossexuais. O realizador, numa manobra apelativa, tenta unir o útil ao agradável num filme da pior qualidade. Em situações que deveriam ser cômicas, dá vontade de chorar. Não sei como nenhum diretor de filmes pornôs teve essa idéia… Como não sou um consumidor do gênero, não posso afirmar com 100% de certeza.

Não se deixem enganar pelo chamativo título (bem “original”) que destaca a caixinha de DVD nas estantes das locadoras. Tal estratégia publicitária acabou despertando a curiosidade e expectativa da imprensa no último Festival do Rio (2009) – como não poderia deixar de ser diferente. A euforia durou até o início da primeira sessão. A conclusão é a seguinte: não deixe esse filme entrar em sua casa.

Como sabemos que James Cameron disputava com ele mesmo o posto de bilheteria suprema — o Titanic soçobrou mais cedo do que eu esperava –, resta a Phil Claydon pensar em outra bizarrice que desbanque esta sua pérola. Se o diretor seguir na mesma linha “criativa”, podemos esperar para este ano algum título como “O massacre dos zumbis gays” ou coisa parecida — admito que o título hipotético é sofrível… Preparem-se, porque neste ano presenciaremos the dawn of the dead, prato que será servido de todas as formas possíveis e imaginárias.

Carlos Eduardo Bacellar

p.s. Para quem estiver interessado num filme trash supimpa, indico “Arraste-me para o inferno”, de Sam Raimi. Esse sim, um filmaço!

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Ela entrou!

O coquetel menino-carente-pré-adolescente-tímido-alvo-de-chachota é saguinário. Oskar, inocente, “Deixa ela entrar”, como quem não quer nada, e a cumplicidade (e o amor amigo!) se revela(m) através de experiências, desejos, segredos e dificuldades compartilhados.

Filmes como “A Hora do Espanto”, “Amor à Primeira Mordida” ou a saga “Crepúsculo” não fazem o meu gênero. Anne Rice me levou à “Entrevista com o Vampiro”. Tarantino mereceu que eu tomasse “Um Drink no Inferno”. O poderoso chefão Coppola me deu dever de casa com “Drácula”.  E meu entendimento acerca de vampiros começa e termina por aí.  Gosto de Drama.

Tomas Alfredson é um talento de Diretor. O roteiro dispensa falatórios quando câmera, luz e quadro dissecam os dramas: da solidão, da pré-adolescência, da velhice, da entrega, da necessidade de se enquadrar em um mundo em que, muitas vezes, é preciso matar para viver, destruir para ressurgir.

Deixa ela entrar é uma poesia da (atual) realidade de um pré-adolescente em formação. A vampirinha Eli entra no mundo imaginário e autodestrutivo de Oskar e passa a representar a compreensão das suas limitações e a possibilidade de crescimento que ele tem. Unidos – pelo bem ou pelo mal – experimentam a superação e os extremos dos atos de amor.

Helena Sroulevich

P.S. Como em qualquer história vampiresca, tudo começou na calada da noite de Natal, quando um súbito e-mail manchou meu inbox com o subject Deixa ela entrar. “Estou falando sério, Helena. Vá ver esse filme hoje, ou melhor, amanhã (faltam dez minutos para o dia 26).” Deixei ela entrar graças ao meu amigo e companheiro de blog Carlinhos e já assisti ao filme duas vezes no cinema. Se você estiver no Rio, não perca. O filme acaba de virar a semana no Estação Botafogo.

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O final é um terror!

“Gostou do colar?”

Uma das produções cotadas ao Oscar deste ano é “Guerra ao terror” (lançado no Brasil diretamente em DVD), da diretora Kathryn Bigelow, ex-mulher de James Cameron. Pois é, caros leitores, um dia Kathryn entrelaçou-se a Cameron – como Neytiri fez com Jake Sully –  em alguma Árvore das Almas (fato que apimenta a premiação, concordam?). Quero que vocês me perdoem pelo excesso de avatarismo, mas não estou resistindo. Em minha opinião, “Guerra” deve levar a estatueta, repetindo o feito de “Crash”, do diretor Paul Haggis, em 2006, que também comia pelas bordas com sua verve mais autoral. Tenho a obrigação moral de adiantar aos leitores deste blog que estou prestes a postar um spoiler. Quem ainda não assistiu ao filme, pare por aqui. Digo isso só por desencargo de consciência, pois sei que a afirmação fará com que todos não resistam e leiam com voracidade.

Tal comentário foi reciclado de uma (das muitas) mensagem (ns) que enviei para o meu colega André Miranda, repórter e crítico de cinema do jornal O Globo. Aliás, o André é um santo, diga-se de passagem. A quantidade de besteiras que eu disparo para sua caixa de e-mail não está no gibi. Mas amigo é para essas coisas. Tem que aturar 🙂

“Guerra” retrata a suicida rotina de um esquadrão antibombas em missões nada recomendáveis no Iraque. Até aí, nada de sensacional. Filmes de guerra “bombam” por aí hehehehehehe. O que torna essa produção singular é o foco no aspecto humano, no que a guerra pode causar aos indivíduos. Além de desarmar explosivos, os militares têm de lidar com outros artefatos igualmente perigosos, que são os efeitos causados por situações extremas no psicológico de cada um. Palmas para o ator Jeremy Renner (que deverá concorrer a uma estatueta por sua atuação). Ele dá vida, com maestria, a um especialista em bombas do exército americano (SFC William James) que encara explosivos capazes de mandá-lo para Pandora (saiu de novo…) com a mesma picardia e ausência de espírito de autopreservação com que Dirty Harry enfrentava a choldra, munido de sua indefectível magnum 44. Bom, a crítica especializada já cansou de esmiuçar o filme.

Lá vem o spoiler… Só há um aspecto que me incomodou, e muito.

O final é completamente inverossímil para qualquer macho-alfa que se preze. Quem, em sã consciência, abandonaria a maravilhosa Evangeline Lilly, a eterna Kate de “Lost” – que faz a mulher da personagem de Renner -, e voltaria para o Iraque, arriscando a própria vida, com o intuito de desativar bombas? A personagem do ator Jeremy Renner está completamente lost (peço perdão pelo trocadilho infame). Ele estava tão acostumado aos horrores da guerra (aquilo o completava), que  ficou incomodado com o papel de marido provedor e pai de um bebê. Deve ser duro ser cobrado por Evangeline (Connie James no filme) e ter que comparecer toda noite. Vida dura…

Com todo respeito à senhora Bigelow, mas somente uma mente feminina para conceber tal final. James deveria ter continuado “furando os olhos” de Sawyer e Jack em vez de brincar de cowboy americano no inferno iraquiano.

Fica aqui também o meu pedido de desculpas ao André. Pouco tempo depois de receber esta mensagem (acredito que umas 2 semanas), ele publicou uma crítica do filme. Acredito que, na ocasião em que esse spoiler invadiu sua caixa, ele ainda não tinha visto “Guerra”. E como todo mundo que recebe uma mensagem com esse teor (proibido; não leia; segredos nunca revelados; você está adentrando os portões do inferno; passe essa mensagem para 20 pessoas, caso contrário sofrerá conseqüências graves; trago a pessoa amada em uma semana etc.), ele deve ter lido. Não sei se ele está fulo comigo… Pelo sim e pelo não, fica o registro. Foi mal, meu camarada!

Carlos Eduardo Bacellar

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Vera Formidável!

Com extrema competência, meus dois colegas de blog – Helena e Edu – já dissecaram o novo filme de Jason Reitman. Realizador dos excepcionais “Juno” e “Obrigado por fumar”, o diretor não precisa de cartões exclusivos para atiçar a libido da comunidade cinéfila.

Dito isso, quero chamar a atenção para a atuação da estonteante Vera Farmiga. Ryan Bingham, personagem vivido pelo galã bem passado George Clooney, vale-se de seu estilo de vida para criar uma aura misantropa ao redor de si, evitando criar raízes e estabelecer relações duradouras.

Tudo vai de acordo com a agenda, até encontrar Alex Goran, incorporada por Farmiga, o que obriga Ryan a realizar um pouso forçado na ilha de Lost (em fevereiro começa a nova e última temporada, imperdível!!!). Lá ele não vai encontrar monstruosidades de fumaça negra (eu preciso saber o que é aquilo!!!), escotilhas misteriosas no meio da selva, ursos polares andando no meio da mata, templos enigmáticos, nem tribos inimigas prontas para atacar a qualquer momento. Algo mais assustador o espera: o relacionamento humano e todas as contradições inerentes.

Vera Farmiga é uma predadora dos céus. Com duas safiras hipnóticas estampadas na face, utiliza todo o seu charme para estontear viajantes indefesos e fugir da falta de emoção de sua vidinha “real”. Como um Leonopteryx faminto, Farmiga caça Banshees incautos que acreditam estar no domínio da situação, voando absolutos pelos céus da América e do mundo. Aqueles dois faróis azuis – que tragam a alma de qualquer macho de plantão – serão a última coisa que executivos incautos verão antes de se espatifarem em terra firme, descobrindo que a realidade pode machucar mais do que uma queda de mais de 5 mil pés. Às vezes, viver uma ilusão nas alturas pode ser mais incrível – ou inteligente – do que encarar o que nos aguarda em solo, nas nossas relações com amantes, parentes, amigos.

Ryan, como não poderia deixar de ser diferente, se apaixona e comete um erro fatal: sem saber mais detalhes sobre Alex e sua vida pessoal, ele resolve deixar os céus de brigadeiro e começa a imaginá-la como sua co-piloto. A conexão não foi estabelecida. Sinto dizer, meninas, mas Clooney não será Toruk Macto – Rider of the last shadow. Resta a nós, pobres mortais, extravasarmos nosso recalque no texto, deitarmos a cabeça no travesseiro à noite, e imaginarmos que estaremos cavalgando Vera Farmiga no motel mais próximo, qualquer dia desses (sonhar não custa nada).

Apesar da ótima atuação de Anna Kendrick (dá um show!), sua personagem, Natalie Keeener, a mais nova aquisição da firma para a qual Clooney trabalha – que tem como negócio demitir pessoas ao redor do globo, na esteira da crise econômica mundial, já que muitos chefes cagões não têm culhões para tanto -, ela é totalmente eclipsada pelo tornado azul Farmiga. Pois é, Anna, você não está mais no Kansas, e aqui o papo é de gente grande. Experiência + corpo escultural + voz sexy + par de bilhas azuis que despertaram meus instintos mais selvagens são duros de bater. Sem esquecer que a grama do vizinho sempre é mais verde, como já diz o ditado, não é verdade? O que eu posso dizer? Não sou isento…

Breve comentário final: eu consegui me conter na sessão até o momento em que Alex admite que já teve experiências sexuais com mulheres. Ali ela acabou comigo. Foi um Deus nos acuda dentro do cinema. Tenho uma queda por meninas que gostam de meninas. Ainda bem que eu estava de jeans.

Pensamento do dia:

Meu Avatar envenenado: em qualquer cultura deste universo e de outros que possam existir, quem tem o melhor carro (ops…) – no caso do filme do James Cameron, quem tem o melhor pterodáctilo monstro assassino – sempre ganha a garota. É de lei! Até em Pandora amar a pé (ou de “carro” velho) é lenha hehehehehehehehehehe!

Carlos Eduardo Bacellar

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Amor sem Escalas

George Clooney é um cara pintoso. Até eu, que sou tradicional, tenho que assumir isso. Sempre defendi que ele daria um perfeito James Bond, diz aí.

Em “Amor sem Escalas”, George encara Ryan, um cara que, com muito orgulho, diga-se de passagem, coleciona milhas aéreas ao cruzar os Estados Unidos pela American Airlines;* prestando serviços de desligamento de profissionais em um país economicamente caótico.

Veja bem:  eu mesmo sou um cara que volta e meia pego meus vôos (de executiva néam) e simplesmente odeio este clima de ar reciclado, filas, malas, check-ins e tais – juro que me cansa. Ryan, entretanto, não só adora, como se vangloria com o fato de ter aeroportos e aeronaves como seu verdadeiro lar. Para isso, desliga-se de tudo que evoca estabilidade such as família, casa e relacionamentos em geral.

É claro que a esta altura você já sacou o turning point do filme; realizado, de forma muito bem escrita. O foco está no valor das relações humanas em nossas vidas. Como santo de casa não faz milagre (é o povo que diz, gente!), George Clooney é um cara que beira os 50 anos de idade solteiro e sem ter uma relação monogâmica duradoura, how ironic.

O filme é ótimo e recomendado. Depois de tantas comédias românticas estilo Judd Apatow, a gente fica cansado de roteiros desconexos e improvisações de boas idéias. Desta vez, muito pelo contrário, temos uma sinopse duvidosa e um filme excelente.

Creio que tem chances de ganhar alguns prêmios, como roteiro original e melhor atriz coadjuvante para Vera Farmiga, o resto seria, ahm… exagero.

*Nota: O sentimento de que se trata de um filme institucional da AA ocorre algumas dezenas de vezes durante o filme.

Edu Valverde

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Qual filme vai para o paredão? Melhor, não entra no circuitão?

Ao ler na rede sobre a lista com os maiores fracassos de bilheteria de Hollywood nos últimos cinco anos, publicada pela revista Forbes, percebi que alguns títulos que figuravam nesta relação maldita em que ninguém quer estar, foram lançados, no Brasil, diretamente em DVD.

Encabeçava a relação o filme “A Grande Ilusão” (“All the king´s men”), uma refilmagem do clássico homônimo produzido sob a batuta de Robert Rossen. Driblando as expectativas de público e crítica, o dito cujo foi parar direto nas prateleiras das locadoras. O mais curioso é que a nova roupagem, dirigida por Steven Zaillian, traz nos créditos um elenco estrelar, com nomes como Sean Penn, Jude Law, Anthony Hopkins e a eterna Kate “Rose” Winslet (eu, particularmente, prefiro a versão mulher-de-classe-média-inconformada-e-devassa-enrustida de “Foi apenas um sonho” – adoro quando um diretor esmiúça a rotina medíocre da classe média revelando sua hipocrisia). Com este recheio, a torta de Zaillian deveria ser exposta é na vitrine da confeitaria Kurt, ou seja, na tela grande.

O que inquieta minha alma pecadora é o fato de muitos filmes estarem no outro extremo do espectro, bem cotados pela crítica e aguardados ansiosamente pela galera, também estão aportando direto na versão em DVD. Exemplos bem recentes são “Tá rindo do quê?”, com Adam Sandler, dirigido por Judd Apatow (o novo Midas da comédia autoral americana), “O elo perdido”, com Will Ferrell, e o mais recente longa-metragem estrelado por Michael Douglas, o suspense jurídico “Acima de qualquer suspeita”, dirigido por Peter Hyams. Todos privados de um espaço no circuito exibidor nacional. Sem falar no laureado “Guerra ao terror”, da diretora Kathryn Bigelow. Como podem ocorrer tantos erros de julgamento como esses?

Como bom jornalista (o adjetivo é duvidoso), comecei a me questionar: o que faz com que uma produção padrão Hollywood seja lançada diretamente em DVD, pulando o circuitão? Qual é o crivo? Quem é o responsável? O que é levado em consideração? O potencial estimado de arrecadação? Agenda cheia do mercado exibidor? Falta do lobby necessário? Será que alguém deixou de dar pra alguém? O encarregado não tomou o seu remédio como deveria? Proposta estética que poderia ter apelos distintos em culturas diferentes? E a voz do povo? Ela não tem vez? Existe alguma teoria da conspiração por trás disso (eu adoro uma teoria conspiratória, por mais absurda que pareça)? Não poderia haver plebiscitos em casos de grande repercussão na seara cinéfila, como os citados acima? Onde vivem os monstros?

Já adianto que tenho mais perguntas do que respostas. Afinal, isto aqui é um blog, e não uma reportagem de jornal. Assim que tiver uma resposta satisfatória, comunicarei a todos. Tentei entrevistar um amigo meu realizador de filmes independentes. Bom… Na verdade, ele faz montagens com vídeos do circuito interno do prédio dele. Primeiro eu mirei em Pandora. O James Cameron não quis falar comigo. Agora que “Avatar” vai acabar de massacrar o transatlântico Titanic e assumir o posto de maior iceberg do mar do norte no quesito bilheteria, ele está um pouco cheio de si e não deu bola para este humilde blog. Voltando ao meu amigo, futuro diretor de sucesso –  o novo Matheus Souza -, o problema é pouca farinha para muito pirão. Completou dizendo que santo de casa não faz milagre e pau que nasce torto nunca se endireita. Não sei o que ele quis dizer com tudo isso, mas foi profundo. Cameron não diria nada melhor, nem em língua Na’vi, conectado com as forças da terra.

Duas coisas são certas (e aqui fica o grito de um apaixonado por cinema):

1) Se alguém me privasse de “Deixa ela entrar” na telona, eu ficaria muito indignado e faria xixi na porta da Ancine (não sei nem se a autarquia tem culpa no cartório, mas alguém tem de pagar), como uma forma de protesto desabrido (adorei essa palavra, desabrido). A produção sueca do diretor Tomas Alfredson mexeu com minha sensibilidade cinéfila e, na minha opinião, juntamente com “500 dias com ela” (Marc Webb), “À procura de Eric” (Ken Loach) e “Bastardos inglórios” (Tarantino), é um dos melhores filmes de 2009. Até hoje eu fecho os olhos e vejo aqueles olhos azuis expressivos e mortais, mas ao mesmo tempo ternos e inocentes, da personagem de Lina Leandersson, a vampirinha Eli. Taí… Tenho que escrever uma crítica sobre o filme. Alguém me lembre disso…

2) Quero ver quem é macho de vetar este que vos escreve dos corpos esculturais de Zoe Saldana (a minha Neytiri), Angelina Jolie, Katie Hudson e companhia limitada na tela grande (eu ainda não tenho tela de LCD 42’’ em casa, tenham dó, poxa vida…). Só se for por um motivo de saúde pública. O coração entra em descompasso e aí, malandro, já viu, né? Meu pai, com quase 80 anos, não pode ver um troço desses (minha mãe também é muito ciumenta).

Fica aqui este libelo contra quem a carapuça tenha servido. Inté!

Carlos Eduardo Bacellar

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Nas escalas, o amor.

“Amor sem Escalas” cruza longe o cruzeiro de comédia romântica. A tradução comercial de “Up in the Air” é catchy às mulheres (se bem que o George Clooney por si só já vale o ingresso) e aos novos casais. Se não dimensionada, subestima o potencial do interessante enredo. É repleto de metáforas, onde viver nas nuvens ou estar no ar azeita de desconexão os mais conectados.

Em contexto atual, o profissional focado Ryan Bingham (George Clooney) lucra milhas exorbitantes, enquanto demite os desafortunados pela crise americana. Fazendo o trabalho sujo, é o representante perfeito de certas empresas que lucraram (e muito) com o downturn. Em economia de crise, quem tem lábia é rei: provavelmente esteja aí a parcela creditada à comédia.

O filme sugere um Ryan bem resolvido. Típico solteiro profissional, tem proposta minimalista e desapegada. Ama seu estilo de vida e o defende com unhas e dentes em palestras motivacionais (para exportação). Tudo que tem, parece descartável ou substituível em uma próxima escala em terra firme – à exceção de seus cartões de fidelidade, verdadeiros passaportes ao luxo, dos quais se orgulha tremendamente.

O que ele ainda não sabe é que suas verdades, por mais enraizadas que estejam, terão destino questionado por mulheres: a amante, a amiga e a irmã. Na charmosa personagem Alex, de Vera Farmiga, reconhece sua alma gêmea, alguém capaz de compartilhar seu jeito de ser e que, como ele, parece só querer da vida curtição-sem-compromisso. A segunda é a recém-formada Natalie Keener (Anna Kendrick) que acredita ter aprendido na Faculdade tudo que precisava saber sobre políticas de Recursos Humanos e cortes orçamentários e, antenada, sugere demissões via webcam como parte de seu job. Nada mais apropriado quando se lida com a desgraça alheia, não é mesmo? É neste imbroglio que a relação de Natalie e Ryan se estabelece, revelando a humanidade por trás do sangue frio. E é da intimidade dividida pelos dois que Ryan percebe seu coração em pouso de emergência ao encontro da família (no casamento da irmã), lugar renegado no passado, mas que provocará verdadeiras revoluções internas em sua personalidade.

O amor está nas escalas de amadurecimento afetivo do homem Ryan. Certo do que quer, parte em busca do rumo “certo”. O que ele desconhece e nem desconfia, é que as mulheres só decolam – sem cintos – quando devidamente livres, seja por condição ou por um mínimo de retaguarda. “Amor sem Escalas” é um embarque nas relações contemporâneas repleto de significados, e deixa seus vitimados à flor da pele.

Helena Sroulevich

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Se todos fossem no mundo iguais a você, Paulo Francis…

Completando o pensamento supracitado, um dos jornalistas mais polêmicos e ácidos que já transitou pelas redações da imprensa brasileira, Franz Paulo Trannin Heilborn (1930-1997), vulgo Paulo Francis, não teria tanta graça. O que faz de Francis uma ave rara é justamente o contraponto que ele fazia com os editoriais mais ortodoxos. Paulo Francis era um jornalista de opiniões, e que opiniões! Com seus textos ele se aproximava do acinte na medida em que se afastava da isenção. Por que ela fazia tanto sucesso?

Certa vez, um professor que eu tive na faculdade disse o seguinte (estou parafraseando): “Há três coisas que influenciam diretamente na vendagem dos jornais: mulher bonita (uhu!!!), bichinho e criança”. Eu acrescentaria outro substantivo à lista – a polêmica! Quem não gosta de um bafafá que atire a primeira pedra, ou ajuíze o primeiro processo. Os exocets sui generis de Francis eram o tempero apimentado de um quadro editorial linear, sem grandes emoções. Assim como num terremoto, os comentários do jornalista eram os abalos císmicos na imprensa nacional que faziam a agulha do sismógrafo registrar mais de 7 pontos na Escala Richter.

Ele não fazia média. A língua solta e afiada – aliada a um estilo mais pessoal e coloquial de tratar o texto e os temas – fez com que o jornalista caísse nas graças da galera, assim como lhe rendeu muitos desafetos.

Neste doc que acaba de estourar nas telas (“Caro Francis”), o diretor Nelson Hoineff trabalhou muito bem as facetas contraditórias do polêmico editorialista, que mudava de opinião como a Gisele Bündchen muda de roupa durante um desfile. Também não se furtou de colocar o dedo nas feridas de assuntos espinhosos, como o caso da Petrobras, que muitos acreditam ter sido o início do fim do Francis. Ao chamar a diretoria da Petrobras de “a maior quadrilha que já existiu”, afirmando que “os cabeças” da instituição extorquiam o povo brasileiro e tinham milhões de dólares na Europa”, ele comprou um briga feia que tornou seu horizonte mais nebuloso. Francis também trocou farpas com o ex-ombudsman do jornal Folha de São Paulo, Caio Túlio Costa, que não colocou o galho dentro. O imbróglio acabou desgastando o relacionamento de Francis com o veículo. Mas Hoineff não esqueceu também do lado terno e amigo, que conquistou muita gente.

Profissionais como ele fazem falta, como bem disse um dos entrevistados do documentário (se eu não estou enganado, um ex-ministro do qual não recordo o nome). Muitos jornalistas consagrados hoje dão seu depoimento nesta produção que surpreende mais pelo carisma e personalidade de Francis do que por outra coisa. Paulo “Bombástico” Francis passou seu bastão, mesmo que de forma inconsciente, para uma nova geração que entre outras figuras tem o duvidoso e imprevisível Diogo Mainardi. Ele defende seu amigo nos turbulentos episódios com a Petrobras e com o ex-ombudsman da Folha.

Certa ocasião, eu passei a adotar um bordão com o qual finalizava meus textos. Acredito que ele, ao ser levemente modificado, pode ser transposto para identificar o sentimento geral em relação ao Paulo Francis: o jornalista amado por alguns poucos, odiado por muitos, mas que todo mundo lia, ouvia e via.

É isso aí, Hoineff! Mais um ponto para a memória da imprensa nacional. Vale a pena conferir!

Carlos Eduardo Bacellar

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Eu que não vou para onde vivem os monstros…


Qual o cinéfilo que se preza que ainda não foi correndo conferir o novo filme do diretor Spike Jonze, aclamado por produções como “Quero ser John Malkovich” e “Adaptação”? Aposto que se decepcionaram, não é?

Apesar de baseado numa obra infantil (Onde vivem os monstros, obra ilustrada de Maurice Sendak), o filme deveria refletir os conflitos por que passa o protagonista – o garotinho Max (Max Records), numa atuação pífia… posso estar sendo um pouco duro, afinal, meu padrão é Dakota Fanning na fase Macaulay Culkin-Esqueceram de mim, não na atual conjuntura focada em Deixa ela entrar versão piorada. Tal fato enganaria os mais incautos quanto à classificação do filme. Tenho certeza de que muitos aproveitaram para levar os filhos e sobrinhos ao cinema, cheios de expectativas (ou, pelo menos, com o objetivo de acalmar a criançada por alguns minutos com uma distração decente).

Na idade de “quero atenção”, o pimpolho rebelde vive conflitos com a mãe, e acaba criando um mundo imaginário que deveria refletir essas inquietações internas – e não ser somente uma fuga para uma existência pseudosolitária/afetiva -, tornando-se uma válvula de escape. Existe vasto material acerca dos significados e implicações da obra de Sendak (filosoficamente falando), que foi pouco explorado pelo diretor.

O roteiro é confuso… Não ficou claro, na construção do roteiro, o significado daqueles monstros, que deveriam refletir (simbolicamente) de forma mais clara as emoções de Max e o período conturbado pelo qual ele passa. Parece mais um show desabrido de bonecos gigantes de pelúcia do que outra coisa.

Quem espera que o universo de Max seja uma alegoria bem construída acerca da formação sentimental e afetiva do garoto, pode esquecer. Se você quer uma boa história sobre o crescimento de um menino, é melhor ler o romance “Fôlego”, do australiano Tim Winton. Não tem os monstros, mas as ondas insanas compensam a falta de pelúcia.

O filme deverá fazer sucesso entre a garotada, que adora um bichinho (quem não gosta?). A indústria de brinquedos vai se fartar. Agora, a contradição: só foram liberadas para as salas exibidoras cópias legendadas, e a classificação etária é de 10 anos. O que a minha mãe vai dizer para os alunos dela da educação infantil, que tem idades entre 3 e 6 anos? É melhor levá-los para curtir “Astro Boy”.

Galera, o filme é superestimado. Hoje em dia, é difícil ficar imune aos efeitos dos vultosos investimentos em divulgação que alavancam as mega produções americanas – o que acaba, muitas vezes (infelizmente…), influenciando a crítica também.

Para os interessados em fugas existenciais, eu aconselho se enfurnar na toca do coelho (Tim Burton vem aí!!!) ou na Terra-Média de Tolkien.

Carlos Eduardo Bacellar


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